O dia 8 de março celebra o Dia Internacional da Mulher. A data, instituída oficialmente pela ONU em 1975, é uma grande oportunidade de debater a necessidade de igualdade de gênero e de oportunidades. No entanto, é importante que isso seja feito sem demagogia ou floreios.
Movimentos internacionais, como o #TimesUp, #MeToo e, no Brasil, #NãoÉNão, são mais do que hashtags. Eles pressupõem a união de mulheres e vítimas de assédio para dizer um basta a cultura do estupro e a desigualdade de gênero. E mais do que isso, eles colocam a mulher no centro do debate.
Dados do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que, no período de um ano:
- 4,7 milhões de mulheres já receberam tapas, empurrões, chutes e socos no ambiente doméstico (isso equivale a 536 mulheres por hora)
- 12,5 milhões já sofreram ofensa verbal, insultos, humilhações e xingamentos.
- 4,6 milhões foram tocadas ou agredidas por motivos sexuais (são 9 mulheres por minuto)
- 1,7 milhão de mulheres ameaçadas com faca ou arma de fogo
- 1,6 milhão já sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento (a cada minuto, 3 mulheres passam por isso)
A violência contra a mulher, entretanto, não se restringe a essas situações. Afinal, o machismo ainda está na estrutura da nossa sociedade e se manifesta de diversas formas. Na crise que afetou fortemente o Brasil desde 2016, as mulheres foram as mais afetadas.
O cenário de disparidade não é exclusivo do Brasil. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 6% das mulheres do mundo estão desempregadas, enquanto esse número é de apenas 5,2% na população masculina.
A participação feminina no mercado de trabalho também é bastante desigual. Apenas 48% da população mundial feminina acima de 15 anos de idade está inserida no mercado de trabalho, enquanto o número chega a 75% para os homens.
Entre as mulheres trans, a situação é ainda mais preocupante. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das Travestis e Transexuais recorrem à prostituição ao menos uma vez na vida por falta de oportunidades no mercado de trabalho formal.
E não podemos nos enganar: os dados não são aleatórios.
A mesma sociedade que não permite às mulheres a autonomia necessária para seguir seus sonhos e construir seu patrimônio, é a sociedade que está acostumada com a violência aos seus corpos, tendo-as à serviço da cultura que privilegia homens – principalmente os homens brancos, pois as pesquisas também apontam que mulheres brancas ainda têm mais oportunidades que homens e mulheres negros.
COMO MUDAR ESSE CENÁRIO
Para mudar esse cenário de séculos de opressão, é necessária a criação de políticas públicas que protejam a integridade das mulheres e facilitem seu acesso ao mercado de trabalho.
De bolsas de estudo à criação de creches em horário estendido, é preciso investir em medidas que aumentem a capacidade e dêem a possibilidade de mulheres trabalharem fora do ambiente doméstico.
O empoderamento feminino – um discurso muito usado por marcas voltadas a esse público, também está na autonomia financeira, permitindo que elas consigam ter suas opiniões, seus corpos e seus desejos respeitados.
Quanto a questões de segurança, devemos caminhar para a ampliação do horário de funcionamento das Delegacias de Defesa da Mulher, a preparação dos profissionais para oferecerem apoio às mulheres violentadas e o fortalecimento de medidas de saúde pública, para que elas encontrem os cuidados mais adequados nos centros de saúde com atendimento gratuito, incluindo acompanhamento psicológico e cirurgias estéticas, quando necessárias.
Leis que protejam as mulheres no mercado de trabalho, como durante o período da gravidez, também devem ser formuladas e aplicadas a fim de gerar equidade de oportunidades.
Porém, o assunto também merece a atenção nas esferas da vida privada.
Como o machismo pode estar em todos os lugares, inclusive em nosso pensamento, é necessário estar em contato com os movimentos de mulheres que pensam esses novos lugares.
Existem diversos sites e grupos de discussões sobre pautas feministas que enriquecem o debate e exterminam preconceitos – afinal, esta é a maior barreira enfrentada pelas mulheres.
INDICAÇÕES DE CONTEÚDO PARA O SEU ENRIQUECIMENTO PESSOAL SOBRE O ASSUNTO
Geledes (Site de notícias com foco em feminismo negro)
Não Me Kahlo (Site de notícias com visão feminista)
AzMina (Site de notícias com visão feminista)
She’s Beautiful When She’s Angry (Documentário sobre alguns grandes nomes do movimento feminista de 1960)
Hannah Gadsby – Nanette (Stand Up em que Hannah Gadsby relembra as adversidades de ser uma mulher homossexual em um país que criminaliza a homossexualidade)
Miss Representation (Documentário que aborda como a representatividade feminina nas mídias pode atrapalhar a chegada de mulheres aos lugares de poder)
Mulheres Negras (Curta-documentário sobre a situação das mulheres negras no Brasil)
A Esposa (Filme conta a história de uma mulher que vê seu talento ser invisibilizado no sucesso do marido)